Em DVD: A Última Tempestade
Na segunda metade da década de 1980, Greenaway despontou para o mundo como um novo gênio do cinema pós-moderno. Suas narrativas complicadas agradavam os cinéfilos, que admiravam sua estética cheia de jogos formais e travellings inspirados em Kubrick e Godard (na época, ele declarou amar o primeiro, mas foi ambíguo em relação ao segundo).
Quando ''A Última Tempestade'' passou na Mostra SP de 1991, em uma sessão de sábado à noite, a fila no extinto Comodoro (enorme cinema que existia no centro de São Paulo) era quilométrica. E ia passar sem legendas. Quando estreou, teve um público razoável, virando objeto de culto, assim como havia acontecido com o filme anterior, O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante (1989).
Hoje, uma revisão desse cinema cheio de pretensões artísticas e aspirações ao pós-pós-modernismo revela o que ele tem de frágil. Na época, o diretor dizia que o cinema já era, que devia se abrir a novas possibilidades. O que se vê na tela é um amontoado de janelas se sobrepondo às imagens barrocas do diretor, utilizando a nova linguagem do HD para conseguir uma nitidez nunca vista.
Mas de que adianta esse amontoado de imagens? Elas ajudam a avançar a história, ou entrar em contato com a emoção dos personagens como os jogos formais de ''O Cozinheiro'', ''O Ladrão'', ''Sua Mulher'' e o ''Amante?''. Neste último, os truques baratos de Greenaway favoreciam nosso envolvimento com a mulher adúltera interpretada por Helen Mirren. Em ''A Última Tempestade'' não ajudam, pelo contrário, revelam a frivolidade de sua concepção. É por isso que representa um grande passo para trás em sua carreira, que sempre pendeu entre características perigosamente semelhantes como o maneirismo e a afetação, mas nunca havia deixado que a segunda predominasse, como neste filme.
A história é baseada em ''A Tempestade'', de William Shakespeare. E o ator principal, fazendo até uma overdose de atuação e pagando micos inimagináveis em meio à bagunça ultra brilhante das cenas, é o shakespeareano e excelente John Gielgud. A fotografia é assinada pelo colaborador habitual de Greenaway, o rigoroso Sacha Vierny, que já havia trabalhado com Alain Resnais e Luis Buñuel. Isso explica um pouco o porquê do filme ser tão bem enquadrado, com uma simetria incrível em seus planos gerais.
Mas nem Vierny, com sua cinematografia exuberante, evita o exagero pretencioso que afundou de vez a já frágil capacidade dramatúrgica do cinema de Greenaway. Daí em diante, sua carreira nunca mais foi a mesma, culminando negativamente no insosso e vergonhoso ''O Bebê Santo de Macon'' (1993) e no patético e ultrajante (para o cinema) ''Oito Mulheres e Meia'' (1999).
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